O comércio eletrônico no Brasil passa por um momento de forte crescimento, sendo no e-commerce tradicional ou através das plataformas de marketplace, como Mercado Livre, B2W, Cnova e outras. Volumes de vendas maiores requerem estoques maiores para satisfazer consumidores cada vez mais exigentes. Os prazos de entrega foram reduzidos ao mínimo sem que o fator logística acompanhasse com ganhos de eficiência relevantes.
Os vendedores então começaram a buscar meios para maximizar suas vendas, através de tecnologias inovadoras. Um bom exemplo desse movimento foi o surgimento das integradoras, que permitem ao vendedor administrar um estoque centralizado e facilitam postagens simultâneas em diversos sites. Há também sistemas amplamente utilizados que analisam o comportamento de concorrentes para auxiliar na correta precificação de produtos, além de facilitar e profissionalizar a postagem dos produtos.
O uso dessas tecnologias permitiu que vendedores online se profissionalizassem e com isso expandiram seus negócios e aumentaram suas vendas. Por outro lado, os vendedores se viram também cada vez mais forçados a manter um estoque bem alinhado com a previsão de vendas, que os permitissem realizar a venda e postar os produtos vendidos no mesmo dia. Com esta necessidade de eficiência operacional surge um tema cada vez mais relevante para o comércio eletrônico no Brasil: a demanda por capital de giro.
Com a expansão do comércio eletrônico e o desenvolvimento de novas tecnologias, o setor financeiro deu um passo significativo para acompanhar este novo momento. Reconhecendo que o mundo virtual opera em outra velocidade, e que os bancos tradicionais não detêm a tecnologia nem a flexibilidade necessárias para uma análise de crédito apropriada para o mundo digital, plataformas de crédito online começaram a surgir, focando primeiramente em crédito pessoal, dando empréstimos sem burocracia e com custos accessíveis para pessoas físicas na internet.
Porém, desde 2017, o vendedor online também conta com plataformas especializadas para financiamento do seu capital de giro. O primeiro grande grupo a ser beneficiado com este serviço no Brasil foram os vendedores do Mercado Livre, que passaram a contar com duas novas formas de financiamento, o Mercado Crédito que oferece empréstimos, lançado pelo próprio Mercado Livre, e a GYRA+ (www.gyramais.com) uma empresa independente.
O Mercado Crédito oferece uma linha de crédito pré-aprovada para alguns vendedores selecionados, baseada em uma avaliação interna que leva em consideração as vendas e reputação de cada vendedor individualmente. Quanto melhor a reputação e maior o volume de vendas de um vendedor, maior será seu limite de crédito pré-aprovado. Ao assinar a CCB (cédula de crédito bancário) eletronicamente, o empréstimo é liberado como saldo na conta do Mercado Pago, e para ser utilizado, deve ser transferido para uma conta bancária.
Já na GYRA+ o processo funciona de forma inversa. O vendedor que deseja tomar um empréstimo de capital de giro, seja para comprar estoque, contratar funcionários, investir em marketing ou para outros fins, pode solicitar uma avaliação de crédito através do site da empresa. A GYRA+ analisa o histórico de vendas da loja no Mercado Livre, e se tudo correr bem, o dinheiro do empréstimo é transferido diretamente para a conta bancária do vendedor em até 48h. O processo, que envolve o cadastro e assinatura da CCB é 100% online.
A GYRA+ em breve lançará este serviço para vendedores de outras plataformas de marketplace, permitindo que vendedores que operam em outras plataformas realizem o log-in com diversas contas para uma análise de crédito mais completa, e assim, receberão uma proposta de crédito mais justa para seu negócio.
A decisão do vendedor de tomar um empréstimo para a sua loja não é uma decisão fácil e precisa ser muito bem pensada. De certa forma, a grande dica na hora de tomar a decisão é planejar onde irá aplicar os recursos do empréstimo. O planejamento de alocação dos recursos oriundos do empréstimo deve sempre ser feito antes de tomar o empréstimo.
Há algumas situações onde o capital de giro pode elevar um vendedor de patamar. Realizar uma compra com volumes maiores certamente trará vantagens na negociação com os fornecedores, pois a compra de lotes maiores pode gerar descontos significativos e facilidades no pagamento. Inclusive, pode-se diluir custos fixos, como por exemplo o custo de transporte, em uma base maior de produtos. Ou seja, comprando seu estoque mais barato, o vendedor terá a opção de manter preços estáveis para aumentar sua margem, ou baixar os preços para ganhar mercado. Além disso, investimentos em pessoal, sistemas e infraestrutura podem não trazer retorno tão imediato quanto a compra de um grande lote de estoque, mas o aperfeiçoamento da operação certamente trará benefícios relevantes nas esferas de satisfação do cliente e consequentemente, em sua reputação.
Ainda, a substituição de dívidas mais caras por empréstimos online de capital de giro muitas vezes é aconselhável. As taxas praticadas são significativamente mais baixas que as taxas de outras modalidades de crédito como, por exemplo, o cheque especial e o cartão de crédito. Mas é preciso sempre tomar cuidado para não misturar dívidas pessoais com as contas da empresa.
A análise de crédito online para pequenos negócios não difere muito da análise de crédito que um banco tradicional faria, utilizando dados sobre o vendedor para avaliar qual o tamanho do empréstimo e o valor da parcela mensal que aquele negócio comporta. Já a forma de buscar estas informações difere substancialmente, pois as Fintechs conseguem identificar a atividade de vendas nos diversos marketplaces e plataformas de e-commerce de forma eletrônica, rápida e sem burocracia.
O comportamento do faturamento mensal talvez seja o principal ingrediente da receita para a análise de crédito sobre o vendedor online. As Fintechs preferem quando as vendas mensais seguem um padrão de estabilidade sem muitas variações para cima ou para baixo, trazendo previsibilidade para o vendedor e facilitando o planejamento de sua operação. A tendência de médio prazo também é um fator relevante, vendas estáveis e crescentes são bem vistas, enquanto uma perda sucessiva de volume pode sinalizar problemas para o futuro.
Há também um lado subjetivo da análise de um vendedor de comércio eletrônico que está ligada à sua reputação. As reclamações e avaliações negativas em determinadas situações podem ser interpretadas como uma falta de organização por parte do vendedor, ou uma baixa qualidade de seus produtos. Todos nós sabemos que muitas vezes as reclamações são infundadas ou injustas, mas o fato é que, mesmo assim, acabam impactando as vendas de forma negativa. A dica é sempre responder de forma educada e clara as reclamações dos compradores, rápida e objetivamente. A boa reputação não é um requisito apenas no mundo virtual e sim em todas as esferas da vida de negócios. Não adianta uma pessoa ou empresa ter a admiração de seus clientes na internet, se ao mesmo tempo houverem severas pendências e restrições de crédito nos birôs como Serasa ou SPC.
Em resumo, as plataformas de crédito online vieram para alavancar as vendas daqueles empreendedores que, de forma organizada, estão desenvolvendo seus negócios e formando uma nova geração de comerciantes do mundo digital. Ocupando um espaço que os bancos tradicionais não conseguem ainda operar, as Fintechs estão fazendo a diferença na vida dos pequenos e médios empreendedores virtuais.
Marcio Eugênio é especialista em e-commerce, com mais de 13 anos de experiência na área, e sócio-fundador de três empresas focadas em e-commerce. É colunista em diversos portais relacionados a comércio virtual, administração e empreendedorismo, além de contar com vasta experiência em comércio eletrônico. Foi eleito em 2016 como o melhor profissional de e-commerce pela Abcomm, através de votação popular, e é apresentador do maior canal focado em e-commerce do Youtube no Brasil. O Projeto mais recente de Loja virtual é a https://www.monnieri.com.br/ que saiu do zero a um milhão de reais de faturamento em menos de dois anos.
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